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Efeitos Especiais: O impossível sob medida

Eles são capazes de criar do nada um inseto pré-histórico. Podem fazer com que uma gota de sangue caia no chão e fique do tamanho de uma cachoeira — ou que um famoso roqueiro apareça arrancando a pele do rosto, deixando os ossos à vista. Essa é uma amostra dos truques extraordinários perpetrados por quatro ingleses, Peter Parks, Gerald Thompson, John Palling e Sean Morris, que têm em comum o fato de serem amigos, a condição de biólogos e a propriedade da Oxford Scientific Films, empresa por eles fundada em Londres, em 1968. Naquele ano, os quatro decidiram abandonar a pesquisa científica para ganhar a vida num ramo com o qual não tinham a menor familiaridade — produção de cinema. De início, queriam colocar em filme os mesmos eventos naturais que até então haviam observado nas pesquisas de laboratório. Nenhum deles poderia imaginar que a ousadia acabaria por se transformar numa das mais renomadas empresas de efeitos especiais do mundo. Ao lado da americana Industrial Light & Magic, de George Lucas — responsável por maravilhas como a série Guerra nas estrelas, ET, Os caçadores da arca perdida e Indiana Jones —, a Oxford ocupa lugar de honra no rol das companhias que vivem de fazer com que o impossível pareça realidade.

As regras do jogo são enganadoramente simples: diretores de longa-metragens, documentários ou videoclips expõem suas idéias e os cientistas e técnicos tratam de materializá-las em celulóide ou teipe, por mais estapafúrdias que sejam, e ainda que isso lhes custe alguns fios de cabelos brancos a mais ou uma crise nervosa. “É uma faca de dois gumes”, suspira Peter Parks, um dos fundadores da empresa. “Se temos êxito, todo mundo nos acha fantásticos, mas se falhamos, que Deus nos ajude.” Previsivelmente, os primeiros tempos foram caóticos. “Muitas das coisas que fizemos eram um horror, porém no meio de todo aquele lixo, brilhavam uma ou duas jóias”, recorda Parks, um dos remanescentes da gangue dos quatro que inventou a Oxford. O outro é Sean Morris. “Como éramos ingênuos, estávamos sempre tentando fazer coisas que ninguém mais queria ou podia filmar.” Muitas das tentativas foram bem-sucedidas e envolviam um esforço considerável para conseguir as imagens desejadas a qualquer preço. “Um dos nossos principais objetivos era tentar colocar as câmaras em lugares pouco usuais”, lembra Parks. “Quem, com um mínimo de bom senso, haveria de querer prender uma câmara com cabos na copa de um altíssimo carvalho para filmá-lo na medida em que caía? Quem colocaria uma segunda câmara no ponto exato onde a árvore iria desabar? E quem conseguiria fazer tudo isso sem danificar o equipamento?”, exemplifica. Atribulações de todo tipo não faltaram nos primeiros tempos, como hospedar, no estúdio, durante um ano, uma colônia de ratos selvagens para conseguir seqüências de um parto. Ou então alojar pulgas em gotas de orvalho numa teia de aranha, ou ainda flagrar de dentro de uma árvore o instante em que um inseto depositava seus ovos. Boa parte do trabalho da recém-fundada Oxford consistia em extravagâncias cinematográficas desse tipo. “Por isso, as pessoas acabavam achando que éramos capazes de fazer qualquer coisa”, sorri Parks. “Se tivessem dado uma olhada nos nossos cestos de lixo, mudariam de idéia.” De fato, pode-se dizer que os truques criados pela equipe exigem muita inspiração e não menos transpiração.

Envolvem a criação de maquetes, cenários ou de bonecos teleguiados, o uso de câmaras com diferentes objetivas e formatos de filmes, e filmagens em diferentes velocidades. Esconder uma câmara para filmar determinado animal seu habitat é rotina; quando isso não é possível, constrói-se um ambiente o mais parecido possível para que o animal se adapte a ele. Em outras ocasiões, faz-se o próprio animal. Bem humorados, os técnicos gostam de lembrar os trabalhos que lhes deram mais dores de cabeça. Um deles foi atender o diretor inglês John Boorman, autor de Esperança e glória, que queria filmar o vôo de uma águia para seu filme A floresta de esmeraldas, de 1986.

A primeira tarefa foi convencer Boorman de que, se ele queria realmente que a águia se movimentasse de acordo com sua concepção, teria de aceitar um pássaro artificial. O sistema empregado foi o mesmo que fez o Super-Homem voar nas telas de todo o mundo ou o que produz intermináveis batalhas galácticas entre naves espaciais. Usa-se um fundo azul contra o qual filma-se o objeto ou pessoa durante o vôo — suspensos por um cabo invisível. Tanto o cabo quanto a câmara se movem segundo uma trajetória desenhada previamente por um computador. Depois incorpora-se o cenário do vôo. No caso da águia de Boorman, trabalhando com duas aves mortas, Philip Sharpe, um dos técnicos, montou as partes essenciais sobre um corpo de fibra de vidro que incluía quatro motores auxiliares controlados à distância. Assim, o pássaro podia balançar a cauda e mover a cabeça. Tais movimentos permitiam simular o vôo. O modelo foi suspenso por um cabo e operado por controle manual. No fim, a águia artificial voou como Boorman queria.

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